Ernesto Guevara foi/é considerado um dos maiores líderes da humanidade. De estudante de medicina, se tornou ativista, guerrilheiro e até ícone da cultura pop. Mas não estou aqui para avaliar seu símbolo durante a história, mas homenagear a grande e ultima obra do lendário quadrinista Héctor Germán Oesterheld.
La Vida Del Che, foi originalmente publicada em 1968, na Argentina, em plena ditadura militar comandada pelo General Onganía. A obra de autoria do argentino Héctor Oesterheld e do uruguaio Alberto Breccia foi um marco para a literatura, política, e história do país.
A obra conta os últimos meses do herói Che Guevara, desde a guerrilha na Bolívia até sua morte em La Higuera (de maio a outubro de 1967, especificamente), com flashbacks sobre sua infância e maturidade. Utilizando-se de poucas narrações e frases diretas, Oesterheld cria já desde o início um suspense e tensão na narrativa, causando um certo desconforto no leitor (que já sabe do eminente final). As ilustrações de Breccia e de seu filho Enrique, que também contribuiu para a arte da obra, influenciou também ainda mais nessa tensão com a fusão do preto e do branco no cenário caótico da revolução socialista.
Mas não só de quadrinhos se fez história. Lançado apenas três meses após a morte do guerrilheiro, a obra se tornou ilícita pelo Estado. Este confiscou todos os exemplares originais na editora, e em 1973 a circulação foi considerada oficialmente proibida. Quem detinha o poder sobre algum dos exemplares, não se deteve a destruí-lo. No auge da tirania, em 27 de abril de 1977, Oesterheld é seqüestrado, tornando-se vítima do Nacht und Nebel Erlass (prática criada por Hitler para “permitir” o desaparecimento de pessoas contrárias à política vigente sem que o Estado se responsabilize pelo acontecimento, também conhecido como o “Decreto da Noite e da Névoa”). E em 1978, sem mais informações, o autor se torna oficialmente “desaparecido” pelo governo.
Já Breccia sobreviveu a ditadura, e só faleceu em 1993, pacificamente, aos 74 anos. Mas deixou outras obras incríveis, que aqueles que dizem ser fãs da arte de Frank Miller, ficariam atônitos ao ver o talento de Alberto Breccia.
“A história dos quadrinhos é dividida em duas épocas: aquela que vem antes de Alberto Breccia e aquela que vem depois de Alberto Breccia.” (Frank Miller)
A edição Che: os últimos dias de um herói (2008), Editora Conrad, é a primeira obra de Oesterheld publicada no Brasil. E ainda existem alguns exemplares no mercado...
Mas a editora Martins Fontes já comunicou que irá lançar aqui no país, El Internauta (1957-59) obra também deste grande roteirista, em parceria com o desenhista Francisco Solano Lopez, em 2011.
Ao escrever a biografia mais rica, polêmica e bonita da história mundial, Oesterheld pagou o alto preço da vida. Mas, como aconteceu com o protagonista de sua história, com ele não se foi o “o quê” que o homem tem de maior valor a oferecer a humanidade: seu talento.
“Demos um sumiço nele, por ter feito a mais bela história do Che que já foi escrita.” (confissão de militar argentino para o jornalista Alberto Ongaro, em 1979)
POSTADO POR VANESSA BARBOSA